Carolina Gonçalves Alves
Escola de Ciências Sociais-CPDOC FGV

Não identificados: desafios na construção de narrativas negras a partir dos arquivos
A dificuldade de encontrar registros de pessoas negras nos arquivos reflete estruturas excludentes que moldaram a preservação da memória histórica. O estudo de caso das imagens do arquivo Chiquinha Gonzaga, salvaguardadas pelo Instituto Moreira Salles (IMS), ilustra como a fragmentação e a dispersão de dados dificultam a construção de narrativas sobre esses sujeitos históricos, evidenciando a ausência de identificação adequada, a marginalização de suas trajetórias e a necessidade de revisões críticas nas práticas arquivísticas para a valorização de memórias historicamente silenciadas. Como argumenta Sutherland (2017), os arquivos, frequentemente organizados sob uma perspectiva branca e ocidental, criam lacunas ao não documentar de forma adequada as experiências da população negra, reforçando um apagamento que pode ser tanto um efeito da negligência quanto de decisões intencionais. Essa exclusão se insere em uma estrutura mais ampla em que as memórias silenciadas desafiam as narrativas coloniais sustentadas pelos arquivos, que historicamente impuseram uma perspectiva eurocêntrica e marginalizaram vozes de grupos minorizados. Ao descentralizar o poder dos arquivos e questionar a homogeneização das narrativas, essa abordagem busca promover práticas arquivísticas mais inclusivas, que possibilitem a escuta e a integração de perspectivas historicamente marginalizadas. Nesse sentido, os arquivos deixam de ser apenas repositórios de documentos e passam a ser espaços de criação e afirmação da memória, fortalecendo identidades coletivas e permitindo a construção de uma história mais plural e representativa.