Ana Paula Alves Ribeiro
Programa de Pós-Graduação em História da Arte e Centro de Tecnologia Educacional, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Acervo Familiar
A proposta deste trabalho é apresentar uma reflexão sobre de que arquivos são compostos, neste caso pensados a partir de dois eixos: arquivos familiares e arquivos gerados pela população negra. Aqui trago os arquivos da minha família materna: do meu avô, João Lucas Baptista da Gama Alves, alguns dos quais herdei nas duas últimas décadas, assim como os da minha avó, Maria José Pereira da Gama Alves. Quando nasci, a minha mãe, professora de formação, construiu meu nome a partir das homenagens às duas famílias – paterna e materna – para que eu não esquecesse de onde vim. Sou uma das sete Anas (Luísa, Maria, Beatriz …) da família e para me localizar, me chamam em casa de Paula, levo o sobrenome Pereira, da minha avó materna, da Gama Alves, do meu avô materno, e Ribeiro, do meu avô paterno. Nasci na região da grande Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, em 1977, e fui criada em parte como neta mais velha e em parte uma quase filha mais nova dos meus avós. Meu avô, mineiro da Zona da Mata, filho caçula, cruzeirense e vascaíno, lançado ao mundo antes dos 14 anos e que ao longo da sua vida organizou seus documentos – dos seus pais, escolares, políticos, trabalhistas, da sua cidade – se moveu como ele era: um homem negro com alguma escolaridade e matrícula no funcionalismo público. Minha avó, carioca, criada entre os bairros de São Cristóvão e Tijuca, orfã e posteriormente filha adotiva, dona de casa e mãe de 5, silêncio. O que se deixa de rastros? Podemos, enquanto antropólogas, nos debruçarmos sobre as nossas famílias? Este trabalho é também uma tentativa de tensionar questões de raça, gênero e arquivos em relações familiares, de entender o que se guarda, o que se cala e quais são os limites para contarmos histórias que não são nossas, e ao mesmo tempo são.