Alline Torres Dias da Cruz
Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal da Bahia

Criação artística e Interpelação: notas sobre o trabalho fotográfico de Eustáquio Neves.
No decorrer de dois semestres, entre 2023 e 2024, durante o curso Antropologia da Contemporaneidade (DAE-UFBA), venho refletindo, com estudantes das turmas, sobre as possibilidades de produção de conhecimento na Antropologia em diálogo e sob o efeito das criações artísticas contemporâneas de autorias negras e indígenas. O trabalho fotográfico de Eustáquio Neves (Minas Gerais, Brasil), cuja importância e primor são reconhecidos nacional e internacionalmente, tornou-se um dos momentos mais instigantes e produtivos do curso, na medida em que, com algumas de suas obras, nos foi possível estabelecer e retomar relações entre antropologia e fotografia , mas também questionar o estatuto do visível (Didier-Huberman, 2017; Butler, 2015) a partir da produção fotográfica de artistas como Seydou Keita e Fatoumata Diabaté (Moura, 2018), de fotógrafos de estúdio no contexto indiano pós-colonial (Pinney, 2017) e do próprio Eustáquio Neves. Em um movimento que procura dar continuidade à proposta do curso, esta apresentação se volta para algumas obras de Eustáquio Neves, no sentido de refletir como elas nos interpelam, fazem com que prestemos atenção nas incongruências presentes na produção de imagens (públicas ou institucionais) de pessoas negras, que atravessam contextos e temporalidades. Nesse caminho, ao intervir sobre esses modos de produzir imagem de arquivo/para arquivar, o que o trabalho fotográfico autoral de Eustáquio Neves pode criar em nós? Quais são os efeitos das técnicas e experimentos na criação de percepções sensíveis acerca dessas imagens de arquivos? Seria possível, então, propor que políticas do sensível emergem desses encontros, manuseios, cuidados e formas de fazer proliferar mobilizados pelo artista? O que desenquadrar a imagem pública, institucional, e pessoal pode nos fazer notar sobre os modos como a própria antropologia lidou com a criação artística negra – entendendo, em sentido amplo, arte (Gell, 2018; Sharpe, 2023; Campt, 2017)