CONFERENCISTAS
O ANTROPOARQ reúne pesquisadores do Brasil e da Colômbia para debater temas como antropologia, história, patrimônio cultural e arquivos. As palestras exploram diferentes abordagens sobre memória, identidade, práticas de preservação e políticas patrimoniais, destacando pesquisas realizadas em diversos contextos institucionais e acadêmicos.
O evento promove o intercâmbio de conhecimentos e experiências, incentivando reflexões sobre metodologias de pesquisa e os desafios da preservação e circulação de saberes. A programação inclui discussões sobre acervos etnográficos, arquivos familiares e públicos, coleções arqueológicas, tecnologias aplicadas às ciências sociais e o impacto das políticas culturais. Além disso, aborda o cinema como um campo de experimentação e pesquisa, explorando suas conexões com memória, corpo e resistência. Dessa forma, o ANTROPOARQ amplia o diálogo entre pesquisadores, professores e estudantes, fortalecendo a troca de perspectivas e práticas em um fluxo contínuo que atravessa a antropologia, os arquivos, a criação artística e as múltiplas formas de narrar e preservar a memória.
Alline Torres Dias da Cruz Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal da Bahia
Criação artística e Interpelação: notas sobre o trabalho fotográfico de Eustáquio Neves.
No decorrer de dois semestres, entre 2023 e 2024, durante o curso Antropologia da Contemporaneidade (DAE-UFBA), venho refletindo, com estudantes das turmas, sobre as possibilidades de produção de conhecimento na Antropologia em diálogo e sob o efeito das criações artísticas contemporâneas de autorias negras e indígenas. O trabalho fotográfico de Eustáquio Neves (Minas Gerais, Brasil), cuja importância e primor são reconhecidos nacional e internacionalmente, tornou-se um dos momentos mais instigantes e produtivos do curso, na medida em que, com algumas de suas obras, nos foi possível estabelecer e retomar relações entre antropologia e fotografia , mas também questionar o estatuto do visível (Didier-Huberman, 2017; Butler, 2015) a partir da produção fotográfica de artistas como Seydou Keita e Fatoumata Diabaté (Moura, 2018), de fotógrafos de estúdio no contexto indiano pós-colonial (Pinney, 2017) e do próprio Eustáquio Neves. Em um movimento que procura dar continuidade à proposta do curso, esta apresentação se volta para algumas obras de Eustáquio Neves, no sentido de refletir como elas nos interpelam, fazem com que prestemos atenção nas incongruências presentes na produção de imagens (públicas ou institucionais) de pessoas negras, que atravessam contextos e temporalidades. Nesse caminho, ao intervir sobre esses modos de produzir imagem de arquivo/para arquivar, o que o trabalho fotográfico autoral de Eustáquio Neves pode criar em nós? Quais são os efeitos das técnicas e experimentos na criação de percepções sensíveis acerca dessas imagens de arquivos? Seria possível, então, propor que políticas do sensível emergem desses encontros, manuseios, cuidados e formas de fazer proliferar mobilizados pelo artista? O que desenquadrar a imagem pública, institucional, e pessoal pode nos fazer notar sobre os modos como a própria antropologia lidou com a criação artística negra – entendendo, em sentido amplo, arte (Gell, 2018; Sharpe, 2023; Campt, 2017)
Palavras-chave Fotografia; arte negra contemporânea; antropologia; arquivos.
Ana Paula Alves Ribeiro Programa de Pós-Graduação em História da Arte e Centro de Tecnologia Educacional, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Ana Paula Alves Ribeiro Programa de Pós-Graduação em História da Arte e Centro de Tecnologia Educacional, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Acervo Familiar
A proposta deste trabalho é apresentar uma reflexão sobre de que arquivos são compostos, neste caso pensados a partir de dois eixos: arquivos familiares e arquivos gerados pela população negra. Aqui trago os arquivos da minha família materna: do meu avô, João Lucas Baptista da Gama Alves, alguns dos quais herdei nas duas últimas décadas, assim como os da minha avó, Maria José Pereira da Gama Alves. Quando nasci, a minha mãe, professora de formação, construiu meu nome a partir das homenagens às duas famílias – paterna e materna – para que eu não esquecesse de onde vim. Sou uma das sete Anas (Luísa, Maria, Beatriz …) da família e para me localizar, me chamam em casa de Paula, levo o sobrenome Pereira, da minha avó materna, da Gama Alves, do meu avô materno, e Ribeiro, do meu avô paterno. Nasci na região da grande Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, em 1977, e fui criada em parte como neta mais velha e em parte uma quase filha mais nova dos meus avós. Meu avô, mineiro da Zona da Mata, filho caçula, cruzeirense e vascaíno, lançado ao mundo antes dos 14 anos e que ao longo da sua vida organizou seus documentos – dos seus pais, escolares, políticos, trabalhistas, da sua cidade – se moveu como ele era: um homem negro com alguma escolaridade e matrícula no funcionalismo público. Minha avó, carioca, criada entre os bairros de São Cristóvão e Tijuca, orfã e posteriormente filha adotiva, dona de casa e mãe de 5, silêncio. O que se deixa de rastros? Podemos, enquanto antropólogas, nos debruçarmos sobre as nossas famílias? Este trabalho é também uma tentativa de tensionar questões de raça, gênero e arquivos em relações familiares, de entender o que se guarda, o que se cala e quais são os limites para contarmos histórias que não são nossas, e ao mesmo tempo são.
Palavras-chave Família Negra; acervos familiares; arquivo; memória.
Carolina Gonçalves Alves Escola de Ciências Sociais-CPDOC FGV
Não identificados: desafios na construção de narrativas negras a partir dos arquivos
A dificuldade de encontrar registros de pessoas negras nos arquivos reflete estruturas excludentes que moldaram a preservação da memória histórica. O estudo de caso das imagens do arquivo Chiquinha Gonzaga, salvaguardadas pelo Instituto Moreira Salles (IMS), ilustra como a fragmentação e a dispersão de dados dificultam a construção de narrativas sobre esses sujeitos históricos, evidenciando a ausência de identificação adequada, a marginalização de suas trajetórias e a necessidade de revisões críticas nas práticas arquivísticas para a valorização de memórias historicamente silenciadas. Como argumenta Sutherland (2017), os arquivos, frequentemente organizados sob uma perspectiva branca e ocidental, criam lacunas ao não documentar de forma adequada as experiências da população negra, reforçando um apagamento que pode ser tanto um efeito da negligência quanto de decisões intencionais. Essa exclusão se insere em uma estrutura mais ampla em que as memórias silenciadas desafiam as narrativas coloniais sustentadas pelos arquivos, que historicamente impuseram uma perspectiva eurocêntrica e marginalizaram vozes de grupos minorizados. Ao descentralizar o poder dos arquivos e questionar a homogeneização das narrativas, essa abordagem busca promover práticas arquivísticas mais inclusivas, que possibilitem a escuta e a integração de perspectivas historicamente marginalizadas. Nesse sentido, os arquivos deixam de ser apenas repositórios de documentos e passam a ser espaços de criação e afirmação da memória, fortalecendo identidades coletivas e permitindo a construção de uma história mais plural e representativa.
Palavras-chave Memória, arquivos e poder.
Diana Carolina Angulo Ramírez / Bastien Bosa Diana Carolina Angulo Ramirez (Cátedra de Estudos Afrodescendentes, Universidad del Rosario, Bogotá, Colômbia), Bastien Bosa (Faculdade de Ciências Humanas, Programa de Antropologia, Universidad del Rosario, Bogotá, Colômbia)
Diana Carolina Angulo Ramírez / Bastien Bosa Diana Carolina Angulo Ramirez (Cátedra de Estudos Afrodescendentes, Universidad del Rosario, Bogotá, Colômbia), Bastien Bosa (Faculdade de Ciências Humanas, Programa de Antropologia, Universidad del Rosario, Bogotá, Colômbia)
Ultrapassando os “limites do arquivo”: exercícios antirracistas na história institucional entre ciências sociais e arte
O artigo apresenta uma reflexão baseada em um projeto de pesquisa que busca reconstruir a história da Universidade do Rosário em relação à escravidão e outras formas de opressão racial. Inicialmente, o projeto teve como objetivo examinar criticamente a história da opressão racial através da exploração dos arquivos disponíveis, na tentativa de lançar luz sobre a vida das pessoas escravizadas que estavam associadas à Universidade e enfatizar a sua humanidade e luta pela liberdade. Contudo, ao longo do tempo os objetivos foram ampliados para incluir iniciativas de história pública que promovessem um diálogo entre as ciências sociais e a arte, a partir de uma abordagem antipatriarcal, antirracista e decolonial. Além do projeto de pesquisa, são apresentadas quatro iniciativas memoriais a ele associadas. Essas iniciativas incluem um tour físico e virtual, uma exposição de retratos imaginados criados com a ajuda de inteligência artificial (IA), uma peça teatral e um projeto expositivo com artistas negros. Tais iniciativas procuram aumentar a consciência sobre o passado colonial da Universidade e ampliar os limites do arquivo, incorporando arte e história pública.
Palavras-chave Escravização; histórias universitárias; anti-racismo; arte; memória.
Felipe Tuxá Programa de Pós-Graduação em Antropologia, UFBA
A feitura de uma Universidade Indígena: Dois lados de uma mesma história.
Conhecimento é poder” é um truísmo da maior importância para o entendimento dos agenciamentos políticos contemporâneos de grupos historicamente colonizados. Para os povos indígenas no Brasil, as demandas pelo exercício de uma cidadania plena passam por uma busca constante pelo reconhecimento das suas competências intelectuais e cognitivas, negadas por séculos. Um capítulo importante nesse processo, é o atual debate sobre a criação de universidades específicas, que ganhou novos contornos no ano de 2024, com a formação, no âmbito do Ministério da Educação, de um Grupo de Trabalho para subsidiar técnica e politicamente a criação de uma primeira Universidade Indígena no país. A iniciativa responde aos imperativos do Movimento Indígena por uma instituição de ensino superior que esteja pautada em seus anseios, especificidades e projetos coletivos de futuro. Nesse cenário, com essa apresentação, busco lançar luz sobre a presença e disputas indígenas em torno da instituição “Universidade”, refletindo sobre o caráter histórico e colonial da mesma, sua associação com práticas de subalternização e o local ocupado pelos conhecimentos e mentes indígenas no imaginário geopolítico de epistemologias hegemônicas e ocidentalizantes. O meu objetivo é evidenciar o campo em disputa daquilo que tem sido chamado de “conhecimentos indígenas”, colocando em diálogo diferentes perspectivas sobre a pertinência, valor e função dos enunciados indígenas dentro dos sistemas de produção de conhecimento universitários.
Palavras-chave Conhecimentos indígenas; Universidade indígena; epistemologias; cidadania indígena.
Gabriela Leandro Pereira (Gaia) Faculdade de Arquitetura, UFBA
“Morenos como nós”: terra, cidade, banimento e recusa.
Navegando por entre documentos familiares e institucionais, esse exercício investigativo busca interrogar as histórias da cidade, tendo como guia a trajetória de uma família afro-indígena da região serrana do Espírito Santo, que migrou para a capital, Vitória, no início do século XX. Tomando como premissa que a Política de Terras de 1850 se realizou indissociada dos projetos de branqueamento nacional, são acionados estudos relacionados ao banimento racial (Ananya Roy) e ao investimento do Estado na possessão branca (George Lipsitz) com o intuito de mapear à implicação destes processos no acesso e/ou interdição à cidade por pessoas racializadas. Aproximando-se de debates e metodologias utilizadas por pensadoras dos black studies, sobretudo intelectuais negras feministas da diáspora, pretende-se ensaiar gestos de recusa e de cuidado como fundamento e prática para des-pensar os estudos urbanos tal qual o conhecemos.
Palavras-chave História urbana; famílias negras; afro-indígena; feminismo negro
Iris de Oliveira Cineasta, Montadora, Curadora, Arte-Educadora ZUMVI Arquivo Afro Fotográfico
Documentário “Acervo ZUMVI - O Levante da Memória”
Direção: Iris de Oliveira.
Duração: 35 minutos
Classificação: Livre
Levante da Memória realiza uma imersão poética no acervo do Arquivo Fotográfico ZUMVI, instituição que registra e preserva, desde a década de 70 , a memória fotográfica do Movimento Negro da Bahia. “O Levante da Memória” apresenta a história do acervo fotográfico ZUMVI, sua luta pela preservação e a trajetória profissional do fotógrafo Lázaro Roberto – pioneiro da fotografia documental negra na Bahia. O acervo ZUMVI contém mais de 30 mil fotogramas – um precioso e pouco conhecido conjunto de registros de importantes e definidores momentos da história da luta por justiça social da população negra na Bahia desde 1970. Com uma população afrodescendente de 82%, segundo o último censo do IBGE, a cidade de Salvador é a capital mais negra do Brasil e considerada a cidade mais negra fora do continente africano. Um grande pólo de produção cultural permeado por valores e bases de matriz africana. Os afro-descendentes desenvolvem práticas políticas, econômicas e culturais permanentemente na cidade. Encontros nacionais e internacionais dos Movimentos Negros, passeatas, eventos culturais, religiosos e outras manifestações fazem parte do cotidiano da cidade. Muitas dessas ações foram registradas pelas lentes de fotógrafos negros e compõem o acervo fotográfico da ZUMVI. Consciente do seu papel na preservação da memória afro-baiana, o acervo da ZUMVI colabora para a compreensão da formação do modelo étnico racial brasileiro através do registro sistemático de manifestações do Movimento Negro e do cotidiano dos afro-descendentes em diversas temáticas e contextos populares. Compreender o passado para repensar o presente. Um reencontro com inspiradoras histórias de resistência de mulheres e homens pioneiros na luta pelo fim das desigualdades sociais no Brasil. A história do Acervo ZUMVI se confunde com a história e origem do Movimento Negro na Bahia. A contribuição deste projeto necessita ser reconhecida e celebrada por todos e o documentário “Levante da Memória” será um dos instrumentos dessa ação. Essas imagens, em sua grande parte, são desconhecidas pela maioria da sociedade e possuem a urgência de retornar ao nosso imaginário.
Palavras-chave
João Pacheco de Oliveira Professor Visitante PPGA-UFBA e Professor Titular PPGAS-MN-UFRJ, Brasil
“Arte e política na recriação cultural. Reflexões a partir do retorno do manto Tupinambá ao Brasil”
O manto Tupinambá, que esteve desde 1688 guardado no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague, retornou como uma doação ao Brasil em 2024, devendo ficar depositado no Museu Nacional do Rio de Janeiro. A sua chegada implicou em articulações entre os museus, tratativas diplomáticas e no interior do governo brasileiro entre diferentes ministérios, e teve também um grande impacto na mídia. O nosso foco será como os indígenas construíram narrativas e significados para este retorno, num movimento profundamente associado à luta pelo reconhecimento oficial da Terra Indígena Tupinambá de Olivença e as dinâmicas locais, com configurações políticas bastante distintas. A minha condição, como curador das coleções etnográficas do Museu Nacional, me colocou em um ponto de observação privilegiado para acompanhar estas mobilizações.
Palavras-chave Repatriação; manto Tupinambá; arte e política.
Laíza Ferreira Artista visual licenciada em Artes Visuais pela UFRN, Natal com especialização em Ensino de Artes Visuais pela UFG, Goiás, Brasil
Laíza Ferreira Artista visual licenciada em Artes Visuais pela UFRN, Natal com especialização em Ensino de Artes Visuais pela UFG, Goiás, Brasil
Entre encantamentos e sonhos: Memórias de águas escuras
O encontro entre os vestígios da oralidade e do esquecimento são força motriz para criar fabulações entre os vazios da memória. A prática da invenção como construção de uma temporalidade fluida são ferramentas ancestrais de minhas investigações para pensar nos deslocamentos e retornos enquanto fragmentos de proteção que desaguam nos processos artísticos da fitotipia e fotocolagem.
Palavras-chave Memória; deslocamento; oralidade; fotocolagem.
Marcelo Moura Mello Universidade Federal da Bahia
Arquivos de silêncio e arquivos de criação
Na esteira do marco de 30 anos de publicação de Silenciando o passado, poder e produção da história, do antropólogo e historiador de origem haitiana Michel-Rolph Trouillot, esta comunicação (re)toma como matéria de reflexão o processo de produção de textos acadêmicos, artefatos documentais e narrativas orais sobre a história e a trajetória de quilombolas da região meridional do Brasil. Em pesquisa realizada há duas décadas, a obtenção de narrativas orais sobre o passado de famílias negras ganhou forma em meio a lutas por reconhecimento e reivindicações de direitos territoriais. De um lado, o próprio conteúdo dessas narrativas se reatualizou à luz do alargamento de horizontes de expectativas e da reconfiguração de experiências morais de desrespeito em virtude de dinâmicas de reconhecimento étnico. De outro, a localização de diversas fontes documentais, obtidas em arquivos históricos, acerca de acontecimentos históricos similares àqueles narradas por homens e mulheres quilombolas colocou diversas questões de ordem epistemológica, notadamente aquelas relativas aos modos de se escrever e pensar histórias de (e com) quilombolas – que, longe de meramente ‘fornecerem’ testemunhos e relatos a pesquisadores/as, agiam tanto como narradores como atores e produtores dessas histórias. Nos caminhos traçados por um novo relato sobre essa pesquisa, trata-se de pensar criticamente sobre os dividendos teóricos e os potenciais analítico-políticos de intervenções acadêmicas atentas às complexidades das intersecções entre a eclosão de criações históricas dos(as) próprios(as) quilombolas e os modos como silêncios ingressam no processo de produção histórica.
Palavras-chave História; narrativa; silêncio; quilombolas.
Rita de Cássia Melo Santos Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal da Paraíba
Rita de Cássia Melo Santos Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal da Paraíba
Co-criação de acervos: memória e protagonismo indígena frente a legados coloniais
Ao longo da história, os povos indígenas constituíram o outro privilegiado (Todorov, 1983; Greenblatt, 1996; Pratt, 1999). Esse lugar de objetificação vem sendo questionado nas últimas décadas e hoje assistimos uma reinvenção radical dessa posição. Deslocando-se desse lugar de outrificação (Fabian, 1983), os indígenas vêm ocupando espaços significativos na produção de suas auto-representações, especialmente por meio dos cargos de antropólogos, curadores e artistas indígenas em instituições museais e de cultura, no Brasil e no mundo. Essas posições têm produzido um espaço profícuo de reflexão, gerando novas compreensões sobre os processos de produção da identidade indígena na contemporaneidade, em especial, da ressignificação do legado colonial recebido. Aqui nos propomos a investigar três atos de memória protagonizados de distintas maneiras por pessoas indígenas. Interessa-nos refletir sobre os efeitos desses atos para os grupos aos quais estão relacionados, bem como, para a antropologia e suas ações institucionais.
Palavras-chave Museus indígenas, Protagonismo, Curadoria.
Salomão Inácio Clemente Curador do Museu Magüta, Benjamin Constant-AM
A importância dos materiais Ticuna de cosmo-conexão do Museu Magüta
Este presente trabalho trata da importância dos materiais Ticuna de cosmo-conexão do Museu Magüta, que tem como ponto crucial abordar a valorização cultural no desenvolvimento da educação indígena Ticuna nas comunidades indígenas Ticuna. Abordagem nos faz pensar mais sobre a dar valor a cultura no desenvolvimento de uma educação indígena. É uma iniciativa de pensar sobre o desenvolvimento de um ensino ancestral para manter vivo os traços tradicionais e ancestrais do povo Ticuna/Magüta. Partindo inicialmente a dizer a lógica forma de uma educação indígena de um povo com cultura tradicional e ancestral viva. Mostrar que os materiais de cosmo-conexão do Museu Magüta perpassam além da fronteira limite e fronteira e se conecta com a forma de viver, costumes próprios, crença, religião e própria forma de pensar a respeito da cultura e fortalecer a identidade de origem valorizando principalmente a cultura ancestral.
Palavras-chave Cosmo-conexão; valorização cultural ancestral. Educação Indígena.
Sandra Carolina Chacón Bernal Faculdade de Arquitetura da Universidade Nacional da Colômbia. Sede Medellín
Sandra Carolina Chacón Bernal Faculdade de Arquitetura da Universidade Nacional da Colômbia. Sede Medellín
Um olhar antirracista sobre o acervo do museu. A exposição: A família negra de Rodrigo Barrientos
Este artigo apresenta o caso de uma ação antirracista baseada na exposição La consentida es: La familia negra, com curadoria coletiva da artista Liliana Angulo e membros de diversas organizações do movimento social afro de Medellín (Colômbia) no Museu de Antioquia durante 2019. O texto localiza a colonialidade e o racismo estrutural como violência que se estende nas instituições culturais do país e aumenta a complexidade da intenção descolonizadora do museu, num momento em que que a dissidência é utilizada como um bem de troca para encobrir o regime colonial que ainda representa. Com a intenção de problematizar a entrada de práticas antirracistas e decoloniais no museu de arte, este texto faz um exercício analítico e crítico sobre o processo e resultado dessa curadoria coletiva. A exposição procurou ser um exercício de justiça epistêmica, questionando quem tem o poder de interpretar e questionar os acervos museológicos, e de reparação histórica, ao investigar o artista afrodescendente Rodrigo Barrientos, realizando assim uma intervenção antirracista na história da arte hegemônica local. Embora a proposta fosse coletiva, foi liderada pela artista, gestora e ativista afro-colombiana Liliana Angulo, que trabalha colaborativamente em processos de reparação histórica e resistência social afrodescendente na Colômbia através de projetos que questionam as representações do afro em coleções históricas, tanto de natureza artística como documental a nível nacional e internacional.
Palavras-chave Curadoria; colonialidade; anti-racismo; museus.
Sebastian Wiedemann Escola de Artes da Universidade Nacional da Colômbia. Sede Medellín
"Possessas”: Cinema experimental como grito e celebração contra-colonial
Nessa fala apresentarei algumas ideias e resultados preliminares do processo de cocriação audiovisual “Possessas”, que levamos adiante em chave interseccional com adolescentes mulheres da periferia de Medellín-Colômbia durante 2024. Nesse processo exploramos e experimentamos as potências do corpo e de suas performatividades como arquivo vivo e em devir num diálogo não identitário nem essencialista com afro-cosmo-espiritualidades e espectralidades como vetores de resistência que animam gestos de fuga, de marronagem diante de modos de opressão neocoloniais, ao mesmo tempo que se faz uma crítica encarnada à figura colonial de Javiera Londoño, suposta pioneira da abolição da escravatura na Colômbia. Criação artística, memórias passadas e memórias encarnadas em ato se emaranham nesse
experimento em antropologia medial e especulativa, onde o cinema experimental é uma máquina de tempos na qual forças acontecimentais trançam processos vitais e de subjetivação com processos de espectralização e possessão na imagem. “Possessas”, um filme em work-in-progress de transes e rituais, de gritos e celebrações, de fantasmas e de forças contra-coloniais.
Palavras-chave Possessão; cinema experimental; cocriação; marronagem.
Tonico Benites
Formas de atuação e experiências de curadoria indígenas
Pretendo apresentar minha experiência de atuação como pesquisador e curador indígena de uma coleção Guarani Kaiowá formada para o novo acervo do Museu Nacional, considerando os desafios presentes na reconstrução das coleções etnográficas destruídas por um grande incêndio em 2018.
Esta instituição bicentenária, tinha como horizonte científico e cultural contribuir para a formação de uma identidade nacional. Hoje, ela se orienta por uma nova linha curatorial voltada para reconstrução de seu acervo etnográfico.
A partir de uma perspectiva curatorial dialógica e de estreita colaboração com as comunidades, por meio de suas próprias representações, tenho participado de oficinas do Museu Nacional para refletir sobre as próprias políticas de memória de meu povo de uma perspectiva inteiramente própria (2019-2024). Trata-se de um processo longo e lento, de enormes desafios, de ambas as partes envolvidas.